UNIVERSIDADE FEDERAL
DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE BELAS ARTES
Programa
de Pós-graduação em Artes
Especialização em Ensino de Artes Visuais e
Tecnologias Contemporâneas
Paulo Jose de Sousa
GRAFFITI PIXEL: MATERIALIDADE DO GESTO ARTÍSTICO
São Paulo
2025
Paulo Jose de Sousa
GRAFFITI PIXEL: MATERIALIDADE DO GESTO ARTÍSTICO
Monografia de especialização
em formato de artigo científico apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Artes - PPG-Artes, do Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais e
Tecnologias Contemporâneas - CEEAV, da Escola de Belas Artes da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de
Especialista em Ensino de Artes Visuais e Tecnologias Contemporâneas.
Orientador:
PROF. HUGO MARIA DE MENDONCA HOUAYEK
São Paulo
2025
FOLHA DE APROVAÇÃO
NOME : PAULO JOSE DE SOUSA (Nome artístico: Paulo Evaristo)
Nº DE MATRICULA :
2023731172
TRABALHO FINAL: GRAFFITI PIXEL: MATERIALIDADE DO GESTO ARTÍSTICO
Trabalho de conclusão da especialização apresentada ao curso de especialização em
ensino de artes visuais e tecnologias contemporâneas
– CEEAV, do programa de pós graduação em Artes – PPG Artes, da Escola de Belas
Artes – EBA, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, como requisito
parcial para obtenção do titulo de especialista em ensino de Artes Visuais e
tecnologias Contemporâneas.
APROVADO em pela Banca Examinadora constituída pelos
membros:
Resumo
Esta
pesquisa, fundamentada na prática do autor como artista-professor e na
metodologia a/r/tográfica, investiga as conexões entre arte e matemática no
contexto escolar, utilizando o graffiti como linguagem interdisciplinar. O
trabalho aborda o incômodo com a fragmentação disciplinar e a marginalização de
práticas como o graffiti, propondo um deslocamento para que a escola se abra a
essa expressão e suas potencialidades. A materialidade é central, explorada
através do graffiti stencil, técnica presente na trajetória do autor desde os
anos 80, e da pixel art, conectando o digital ao analógico e articulando arte e
matemática.Discute-se o estranhamento que o graffiti e a arte contemporânea
causam no ambiente escolar, desafiando normas e o "currículo oculto".
Analisa-se a história do graffiti em São Paulo, destacando a vertente ligada às
artes visuais (Alex Vallauri, Mauricio Villaça, Oseas Duarte) que surgiu no
contexto da redemocratização e da criação de espaços culturais, diferenciando-a
da vertente exclusivamente ligada ao Hip Hop. A pesquisa detalha o processo do
stencil, sua reprodutibilidade e relação com ícones contemporâneos, e a
evolução do ponto como elemento formador de imagem, do pontilhismo ao pixel.A
investigação reflete sobre a relação pessoal do autor com o stencil e a
emergente pixel art analógica. Com base nos achados e na exploração da
transposição da estética pixel para suportes físicos, propõe-se o termo
“graffiti pixel analógico” para designar práticas híbridas que fundem
linguagens digitais e urbanas, ancoradas na materialidade, no gesto e na
presença do corpo. A metodologia a/r/tografia sustenta a pesquisa, validando a
experiência subjetiva e entrelaçando arte, ensino e investigação. O trabalho se
posiciona como base para futuras pesquisas em nível de mestrado, afirmando a
arte como prática viva e política na escola.
Palavras-chave: Graffiti Pixel
; Pixel Art; Materialidade; A/r/tografia.
Abstract
This research, grounded in the author’s practice as an artist-teacher and the a/r/tographic methodology, investigates the connections between art and mathematics in the school context, using graffiti as an interdisciplinary language. The work addresses the discomfort with disciplinary fragmentation and the marginalization of practices such as graffiti, proposing a shift for schools to embrace this form of expression and its potentialities. Materiality is central, explored through stencil graffiti—a technique present in the author's trajectory since the 1980s—and pixel art, bridging the digital and the analog while articulating art and mathematics. The study discusses the sense of estrangement that graffiti and contemporary art provoke within the school environment, challenging norms and the “hidden curriculum.” It analyzes the history of graffiti in São Paulo, highlighting the visual arts strand (Alex Vallauri, Mauricio Villaça, Oseas Duarte) that emerged during the re-democratization period and the creation of cultural spaces, distinguishing it from the strand strictly linked to Hip Hop. The research details the stencil process, its reproducibility, and relationship with contemporary icons, as well as the evolution of the dot as a formative image element—from pointillism to the pixel. The investigation reflects on the author's personal relationship with stencil and the emerging analog pixel art. Based on the findings and the exploration of transposing pixel aesthetics onto physical supports, the term “analog pixel graffiti” is proposed to designate hybrid practices that merge digital and urban languages, grounded in materiality, gesture, and the presence of the body. The a/r/tographic methodology underpins the research, validating subjective experience and intertwining art, teaching, and inquiry. This work lays the foundation for future master’s level research, asserting art as a living and political practice within the school environment.
Keywords: Pixel Graffiti; Pixel Art; Materiality;
A/r/tography.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Graffiti
em muro da escola ..................................................... 08
Figura 2 – Alex
Vallauri graffitando
.................................. ..................... 11
Figura 3 – Oficina
cultural Oswald de Andrade ..................................... 12
Figura 4 – Graffiti
Paulo Evaristo............... ............................................. 13
Figura 5 –
Pontilhismo........................................................
..................... 14
Figura 12 –
Graffiti invaders /
Paris...........................................................15
Figura 6 – Graffiti
Orion ...................................................
....................... 16
Figura 7 – Graffiti
Felipe Pantone............................................................ 16
Figura 8 – Pixel
art na parede por Felipe Pantone.................... .............. 16
Figura 9 – Pixel
art na parede/Rodrigo buldrani ...................................... 17
Figura 10 –
Pixelização gato ...................................................................
18
Figura 11– Pixel
Graffiti......................................................
..................... 19
SUMÁRIO
1.0 INTRODUÇÃO ................................................................................................................
04
2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
....................................................................................
06
2.1 GRAFFITI NA ESCOLA
.................................................................................................
07
2.2 PLURALIDADE E DISPUTA
........................................................................................
09
2.3 OFICINAS, DEMOCRACIA E GRAFFITI
.................................................................... 11
2.4 DO ANALOGICO AO DIGITAL: ARTES VISUAIS E
PIXEL ART ........................... 13
2.5 DO PONTILHISMO AO PIXEL
.....................................................................................
14
2.6 PIXEL, CORES E ARTES VISUAIS
..............................................................................
16
3.0 METODOLOGIA
.............................................................................................................
20
3.1 COTIDIANO ESCOLAR: A/R/TOGRAFIA E
MATERIALIDADE.............................. 21
3.2 CONSIDERAÇÕES
ÉTICAS...........................................................................................
23
3.3 USO DE IA
.......................................................................................................................
23
4.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES
....................................................................................
24
5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
..........................................................................................
26
6.0 REFERENCIAS
...............................................................................................................
29
7.0 APÊNDICE 1
...................................................................................................................
31
1- INTRODUÇÃO
Esta pesquisa nasce de um incômodo com os muros disciplinares que freqüentemente
limitam a criatividade e o engajamento estudantil, e do desejo de explorar
caminhos possíveis entre a matemática e a arte, utilizando o graffiti como
ponte, linguagem e provocação. Nesse percurso, a materialidade assume um papel
central, um aspecto cujo valor é reconhecido pela Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), que destaca a importância da experimentação com diferentes
materiais, ferramentas e suportes — dos tradicionais aos tecnológicos e
cotidianos — como forma de ampliar o repertório expressivo dos alunos (BRASIL,
2018).
Para fundamentar esta abordagem,
apoio-me na minha prática como artista-professor e adoto a a/r/tografia,
conforme conceituada por Irwin e Kind (2005), como metodologia. Trata-se de um
campo em movimento que conecta arte, ensino e pesquisa, validando as
experiências subjetivas, os afetos e as memórias como partes legítimas da
construção do conhecimento.
A escolha por investigar este tema
deriva da observação de que práticas artísticas como o graffiti, ainda são
marginalizadas ou têm seus sentidos críticos reduzidos ao serem inseridas no
ambiente escolar, que tende a enquadrar essas expressões em formatos que as
disciplinam, afastando-as de seus potenciais educativos, políticos e estéticos.
Nesse contexto, a pesquisa propõe um deslocamento: em vez de adaptar o graffiti
à escola, busca-se pensar como a escola pode se abrir à linguagem do graffiti e
às conexões que ele estabelece com a matemática, a cultura digital e o
território dos estudantes.
Desde o início, deparei-me com um
obstáculo esperado: o estranhamento. Este reflete o conflito claro entre os
valores tradicionalmente prezados pela escola — ordem, silêncio, paredes limpas
— e o que o graffiti representa — presença, efemeridade, cor, urgência,
transgressão, política, diversidade. Quando a escola tenta incorporar o
graffiti, muitas vezes acaba por domesticá-lo, transformando-o em mera
decoração e apagando seu lado mais crítico e potente, um fenômeno que pode ser
compreendido à luz do conceito de "currículo oculto" de Silva (2001),
que demonstra como a escola ensina também por meio de normas, espaços e gestos,
moldando comportamentos e silenciando expressões fora do padrão. É importante
notar que esse estranhamento não é exclusivo do graffiti, mas envolve a própria
arte contemporânea, que ainda causa desconforto ao desafiar a separação
tradicional entre arte e vida, como lembra Cocchiarale (2007). A resistência
institucional ao graffiti também se liga à sua origem marginal e à sua
proximidade com a pichação; embora freqüentemente vistos como opostos, ambos
nascem da rua como práticas de insurgência visual e afirmação de identidades
periféricas, ocupando os muros para dar voz a sujeitos historicamente
silenciados (Guitahy, 1999). É justamente nesse atrito entre subversão e
institucionalização que se abre um espaço fértil para a reflexão e a criação.
Outro ponto fundamental que
apareceu durante a pesquisa foi a necessidade de abordar o graffiti para além
de sua associação exclusiva com a cultura hip hop. Embora reconhecendo a
importância e legitimidade dessa conexão (Chang, 2005), o objetivo aqui é
ampliar o olhar, compreendendo o graffiti como uma linguagem visual autônoma,
com múltiplas camadas e sentidos. Essa perspectiva reflete minha própria
trajetória, cujo primeiro contato com o graffiti ocorreu há 38 anos, por meio de
uma vertente ligada às artes visuais. No Brasil, para além do graffiti
vinculado ao hip hop, desenvolveu-se desde os anos 1970 uma vertente protagonizada
por artistas com formação acadêmica ou vivência internacional, interessados em
discutir a arte pública para além dos espaços institucionais (Leal, 2023).
Minha prática dialoga especialmente com essa corrente, que inclui o graffiti
stencil (ou de máscaras) e o graffiti a mão livre. Minhas primeiras
experiências foram com a stencil art, técnica que consiste em criar uma imagem
vazada numa superfície rígida que, ao receber tinta spray, revela a imagem pelos
recortes. A exploração da materialidade dessa linguagem em sala de aula, aliada à
proposta pedagógica da escola que valoriza a interdisciplinaridade, abriu
caminho para a introdução da pixel art. Esta nova abordagem mostrou-se um
território generoso para conectar o digital e o analógico, articulando cálculo
de coordenadas, estética e simetria em práticas criativas que ampliaram o diálogo
entre arte e matemática, esta última compreendida não como ferramenta fria, mas
como linguagem viva que dialoga com o fazer artístico e amplia a percepção.
A aproximação entre graffiti e pixel art surgiu quase como um acaso, a
partir do desejo de costurar referências que, à primeira vista, pareciam
distantes, mas que no cotidiano dos estudantes estavam próximas – o muro
grafitado da rua e o personagem do jogo no celular. Essa costura transformou-se
numa estratégia para abrir caminhos de leitura, sensibilização e criação no
espaço escolar, novamente criando um terreno generoso para novas formas de aprendizagem. Partindo
dessa base, este trabalho propõe investigar como práticas que combinam arte
urbana, cultura digital e matemática podem gerar uma experiência
interdisciplinar mais conectada com o cotidiano, valorizando um modo de
aprender que reconhece o gesto, o traço, o erro e a escolha, e o estudante como
alguém que pensa com o corpo inteiro — com as mãos, os olhos e a memória do
bairro onde vive. O objetivo central é, portanto, investigar as possibilidades
de transposição da linguagem digital da pixel art para suportes analógicos,
explorando a materialidade por meio de práticas como pintura mural, carimbos e
pinceladas, e suas conexões com o graffiti e a arte urbana. A pesquisa está desenvolvida em uma escola pública de
ensino fundamental, focando nos estudantes dos 8º e 9º anos, com uma
experiência pontual no 6º ano, buscando promover uma abordagem interdisciplinar
que articule arte digital, expressão urbana, matemática e conteúdos escolares,
valorizando o diálogo entre as linguagens e a integração dos saberes.
2- FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA
Ao propor uma experiência pedagógica que articula arte urbana e
matemática, este trabalho questiona os limites impostos entre as disciplinas e
os saberes compartimentados que freqüentemente pouco dialogam com a
complexidade do mundo vivido pelos estudantes. Parte-se da idéia de que o
conhecimento se constrói nas bordas, nos encontros e nas experiências, onde o
traço do spray e pincel se misturam ao cálculo, e o gesto artístico se abre à
escuta sensível. Como aponta Edgar Morin (2000), há uma inadequação crescente
entre os saberes fragmentados e os problemas cada vez mais transversais e
multidimensionais que enfrentamos.
Neste projeto, a prática pedagógica busca romper com esse isolamento
entre áreas, fazendo da sala de aula um espaço de passagem, onde contextos
urbanos, matemática e linguagem visual se entrelaçam como partes de um mesmo
processo de aprendizagem. Pensar o ensino do graffiti na escola pública,
articulando arte e matemática, é também praticar a escuta e a atenção às
vivências dos estudantes, que chegam à escola com repertórios próprios,
marcados pelos territórios que habitam. Nesse sentido, alinha-se à perspectiva
de Paulo Freire
(1996 pg. 21), que entende a educação
como um ato político e dialógico, no qual o conhecimento se constrói na relação
com o outro e com o mundo, afirmando que “ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”.
Propor práticas interdisciplinares é, portanto, abrir caminhos para que
os estudantes reconheçam relações entre saberes, cruzem fronteiras
disciplinares e construam sentidos a partir de suas experiências. Segundo
Faiguelernt (2006, p. 24), um dos grandes desafios da educação atual é
“construir uma nova relação de ensino e aprendizagem sobre outras bases
cognitivas e afetivas”. Isso significa ir além da simples repetição de fórmulas
ou da memorização de procedimentos: educar é, acima de tudo, criar ideias e despertar
encantamento. Dentro desse contexto, quando Alves (2007, p. 51)
afirma que a matemática “assusta a maioria dos alunos porque eles não entendem
o que seus conceitos significam”, percebemos o quanto é importante buscar novas
formas de ensinar.
A arte, por sua natureza sensível e expressiva, pode oferecer um espaço
fértil para que os conteúdos matemáticos ganhem sentido. Ao explorar a origem
das ideias, suas motivações e aplicações, a matemática se revela nas cores, nas
formas, nos traços e nas composições visuais desenvolvidas ao longo dos séculos.
Assim, as
imagens da matemática tornam-se visíveis por meio da linguagem artística, criando conexões afetivas e
cognitivas mais profundas com os estudantes. O graffiti, como linguagem urbana
e simbólica, oferece um espaço privilegiado para essa invenção e leitura crítica do
cotidiano, aproximando a escola da pluralidade dos saberes.
2.1 GRAFFITI NA ESCOLA: ESTRANHAMENTO E O SILENCIAMENTO
Ao pensar o graffiti na escola
pública, sobretudo na periferia urbana, é inevitável enfrentar o estranhamento,
seja ele estético, conceitual, social ou institucional. Esse desconforto revela
o choque entre dois imaginários: de um lado, a escola tradicional, que valoriza
a ordem, o silêncio e os muros limpos; de outro, o graffiti, linguagem que carrega
presença, marginalidade, efemeridade, transgressão, urgência e articulação
política. Ao tentar incorporá-lo, muitas vezes a escola o despotencializa,
reduzindo-o a uma função meramente decorativa. Nesse gesto, o que poderia ser
linguagem crítica torna-se ornamento, e o discurso visual das ruas é
neutralizado, um processo que reflete o "currículo oculto" descrito
por Silva (2001 pg. 79 ), onde a escola
ensina também por meio de gestos, espaços e silêncios, normatizando condutas e
estetizando práticas que silenciam expressões desalinhadas ao modelo dominante.
O desconforto institucional diante do graffiti está ligado tanto à sua
estética e origem quanto à sua aproximação com a pichação e sua atitude de
enfrentamento, características que o aproximam da própria arte contemporânea
(IMAGEM 1). Cocchiarale (2007), ao refletir sobre a resistência a essa arte,
lembra que fomos ensinados a reconhecer como arte aquilo que é legitimado por
instituições e separado da vida cotidiana; quando o graffiti ocupa os muros da
cidade — e da escola — ele desloca o olhar e a função da arte, operando como
linguagem de ruptura e insurgência visual.
IMAGEM 1 –
GRAFFITI / PAREDE DE RECADOS E POESIA DE ALUNOS
FONTE –
ACERVO DO AUTOR - 2023
Esse estranhamento se intensifica no contexto específico das escolas
públicas periféricas, como a que serve de cenário para este trabalho — uma
instituição que atende desde a alfabetização até a Educação de Jovens e Adultos
(EJA). Nesse ambiente, qualquer produção visual inserida nos espaços comuns,
mesmo feita por alunos do 9º ano, será vista também por crianças pequenas, o
que reforça o controle institucional sobre o que pode ou não ser exposto. A
escola, receosa de interpretações equivocadas por parte das famílias ou da
comunidade, tende a podar aquilo que transgride, reforçando uma lógica
higienizadora que distancia o graffiti de sua potência originária. Enquanto
espaço público de formação, a escola opera sob lógicas de regulação e controle,
selecionando o que pode ser ensinado, exibido e legitimado como conhecimento,
uma seleção que, como destaca Silva (1994), não é neutra, mas atravessada por
relações de poder, discursos normativos e expectativas sociais.
A proximidade entre o graffiti e a
pichação também contribui para a marginalização dessa linguagem. Embora muitas
vezes tratados como opostos, ambos nascem da rua, da urgência e da afirmação de
identidades silenciadas. Guitahy (1999) observa que ambos usam o mesmo suporte
(a cidade) e material (tintas), interferindo no espaço, subvertendo valores e
sendo espontâneos, gratuitos e efêmeros , Campos (2023) destaca que
Graffiti, pixação , Muralismo, entre
outras partilham raiz comum , todas elas partem da noção do espaço publico como arena de intervenções e comunicação,
independente de normas que regulam o território e sua propriedade. Ao ocupar os
muros, essas práticas urbanas rompem com os discursos dominantes e reconfiguram
a paisagem da cidade como território simbólico. Por isso, a presença do
graffiti na escola precisa ser pensada não como inserção forçada, mas como
abertura para o diálogo com as realidades dos sujeitos que a habitam,
preservando a força do gesto criador sem diluí-lo em estereótipos ou propostas
que esvaziem seu sentido.
O estranhamento, portanto, não é somente com o graffiti, mas com a
própria arte contemporânea, que desafia a expectativa escolar por algo “bonito”
e facilmente enquadrável. O graffiti, com sua linguagem urbana, efêmera e
política, tenciona essa expectativa, e como aponta Cocchiarale (2007), é
justamente a arte que desconcerta e desafia que nos ensina a ver de outro modo.
2.2 PLURALIDADE E DISPUTA: GRAFFITI
BRASILEIRO E SUAS VERTENTES
Ampliar a compreensão sobre o
graffiti implica também deslocar o olhar para além de sua tradicional
associação com a cultura Hip Hop. Embora essa conexão seja histórica,
relevante, legítima e honesta, o graffiti constitui-se como uma linguagem
visual autônoma, atravessada por múltiplas camadas de significado e por
trajetórias diversas. Como afirma Gabriela Leal (2023), a arte urbana
brasileira não é homogênea, sendo atravessada por disputas estéticas, política
e de classe social. Uma das primeiras tentativas de sistematizar o graffiti suas manifestações foi proposta por Celso
Gitahy (1999), que classificou os estilos em três vertentes principais: o
estilo das máscaras (associado a Alex Vallauri), o estilo americano (vinculado
ao Hip Hop) e o estilo mão livre (inspirado em Keith Haring). Essa
categorização, focada na técnica, reflete o contexto da época, mas com o tempo,
o graffiti passou a assimilar uma multiplicidade de técnicas e linguagens,
refletindo a liberdade e a busca por inovação. As aproximações entre graffiti e
arte contemporânea permeiam a trajetória dessas práticas desde sua emergência
em São Paulo, com o diálogo já presente na convivência com a geração de
Vallauri (Leal, 2023). Ainda que globalizado, o graffiti mantém vínculos
locais, expressando diversidades regionais marcadas por singularidades culturais
e estéticas (Campos, 2023). Na contemporaneidade, muitos sujeitos atuam em
diferentes domínios artísticos, com obras influenciadas pela rua, mas não
limitadas às técnicas ou padrões do graffiti, ampliando o repertório com
vivências locais e cruzando fronteiras disciplinares (Leal, 2023).
Essa multiplicidade é resultado de
um processo histórico iniciado no final dos anos 1970. Antes da vertente ligada
ao Hip Hop, desenvolveu-se no Brasil uma produção protagonizada por artistas
com formação universitária e trânsito insternacional, interessados em
experimentar formas de arte pública e crítica social, majoritariamente de
classe média e alta (Leal, 2023). São Paulo foi palco de ações marcantes de coletivos
como o “3nós3” (Hudinilson Jr., Mário Ramiro, Rafael França), que entre 1979 e
1982 realizaram “intervenções” poéticas e críticas no espaço urbano,
questionando padrões estéticos e conceituais e provocando o público (Ramiro,
2017). Essas práticas ajudaram a abrir caminhos para o grafite brasileiro,
dialogando com a chamada Geração 80. Outro coletivo fundamental foi o
“Tupi-não-dá” (José Carratu, Jaime Prades e Rui Amaral), pioneiro em interações
diretas com o espaço urbano paulista a partir dos anos 1980, este coletivo após
anos sem interações voltou a produzir em 2019.
Nesse mesmo contexto, destaca-se
a presença do artista norte-americano John Howard, radicado em São Paulo, que
nos anos 70 e 80 pintava livremente nos muros, propondo uma arte acessível e
pública (Dias, 2019). Um dos principais artistas desta geração foi Alex
Vallauri,(IMAGEM 2) pioneiro na inserção do grafite no cenário artístico
brasileiro, participando de duas Bienais de Arte de São Paulo (1983 e 1985).
Seu percurso foi marcado pela apropriação de imagens do cotidiano, pelo humor e
pelo uso da técnica de stencil. Sua morte em 26 de março de 1987 levou à
criação do Dia Nacional do Graffiti, após seus amigos grafitarem o túnel da
Avenida Paulista em sua homenagem no dia seguinte (Gitahy, 1999).
IMAGEM 2 - ALEX VALAURI (1949
-1987)
FONTE – FLICKR – 2025
2.3 Oficinas, Democracia e Graffiti
A arte carrega as marcas de seu
tempo, e com o graffiti não foi diferente. A redemocratização do Brasil,
impulsionada pelo movimento Diretas Já e consolidada com a Constituição de
1988, abriu caminho para políticas culturais voltadas à participação popular.
Nesse contexto, surgiram iniciativas importantes como as Oficinas Culturais do
Estado de São Paulo (1986), (IMAGEM 3) o Centro Cultural São Paulo (1982) e, em
especial, a primeira Casa de Cultura da cidade, o Centro Cultural Itaim
Paulista (abril de 1985), com o objetivo de descentralizar a produção cultural
e fortalecer a atuação das periferias.
Essas ações refletem o esforço de
democratizar o acesso à arte e à cultura, impulsionado também por governos como
o de Orestes Quércia no estado (1986) e Luiza Erundina na capital (1988),
período em que Paulo Freire assumiu a Secretaria Municipal de Educação,
contribuindo para políticas educacionais voltadas à emancipação popular e à
valorização dos saberes periféricos (SÃO PAULO, 2020) (IMAGEM 3).
IMAGEM 3 - OFICINA OSWALD DE
ANDRADE, AO FUNCO GRAFFITI DE EDUARDO CASTRO
FONTE - FAROFAFÁ - PÁTIO/ INTERIOR DO PREDIO
É neste contexto que muitos dos
artistas citados anteriormente (Vallauri, membros do 3nós3 , Tupi-não-dá,
Matuck, Rui Amaral, Ana Leticia, Numa Ramos, Julio Barreto, Mauricio Villaça, Vado
do Cachimbo, Artur Lara, John Howard) e uma segunda geração (Oseias Duarte, Job
Leocádio, Eduardo Castro, Marcia Mayumi, Carmen Akemi, Jorge Tavares, Juneca,
Celso Gitahy, Donato, Neto e Mona ) entre outros se envolveram em projetos de oficinas de artes
pela cidade. Essas oficinas passaram a funcionar como pontos de convivência e
articulação entre artistas urbanos, servindo como locais de troca de
experiências, criação coletiva e ampliação dos percursos e conexões dentro da
cidade, fortalecendo iniciativas colaborativas e projetos compartilhados (Leal,
2023).
É nesse cenário de efervescência criativa e articulação coletiva que se
inscreve também minha trajetória pessoal e artística, fortemente marcada pelo
uso do stencil desde os anos 1980. Meu primeiro contato com essa linguagem se
deu em 1988 (IMAGEM 4), ao participar de uma oficina na Casa de Cultura do
Itaim Paulista, e posteriormente, em 1992, com o artista Eduardo Castro na
oficina cultural Oswald de Andrade. Essas experiências foram fundamentais para
minha formação, inserindo-me em uma vertente do graffiti mais próxima das artes
visuais do que dos elementos da cultura de rua propriamente dita. Além disso,
atuei no ateliê dos artistas Neto e Mona, nomes relevantes na cena do graffiti
paulista que participaram da II Mostra Paulista de Graffiti e posteriormente se
dedicaram à cenografia, ampliando os diálogos entre graffiti e outras
linguagens visuais (Guithay, 1999). Assim como os artistas mencionados
anteriormente, encontrei nesses espaços não apenas técnicas e referências, mas
também um campo fértil de trocas, pertencimento e construção coletiva.
IMAGEM 4 - DESENHO E GRAFFITI -
PAULO EVARISTO (AUTOR)
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2024
2.4 Do Analógico ao Digital: Artes Visuais
e Pixel Art
No contexto de aprendizagem com crianças e adolescentes, parte-se do
princípio de que tanto a arte quanto a matemática constituem formas de
representação da realidade, mediando o trânsito entre o imaginário e o
concreto, e entre o concreto e o abstrato. A matemática, presente em diversas
manifestações artísticas — como pintura, escultura e arquitetura , oferece
fundamentos importantes para a criação visual, por meio de conceitos como
perspectiva, proporção e simetria. Segundo Faiguelernt e Nunes (2006), além de
desenvolver a intuição e a imaginação, a matemática promove um diálogo
constante com a vida cotidiana e com outras áreas do conhecimento, o que a
torna especialmente relevante em propostas interdisciplinares, como aquelas que
envolvem a arte. Esse diálogo pode ser observado na própria formação das
imagens nas artes visuais, especialmente em relação a elementos estruturais
como o ponto. Nesse contexto, o pixel art surge como uma linguagem
contemporânea que retoma, em meio digital, a construção de imagens a partir de
pequenas unidades visuais. O pixel, menor elemento de uma imagem digital,
deriva da junção das palavras picture element (Lyon, 2006) e resgata princípios de
composição que antecedem a era digital.
2.5 Do
Pontilhismo ao Pixel: A Evolução do Ponto nas Artes Visuais
Ao longo da história das
artes visuais, é possível observar a recorrência do uso do ponto como elemento
estruturante da imagem. Nos mosaicos bizantinos, por exemplo, pequenas peças de
pedra ou vidro colorido (tesselas) eram agrupadas para compor figuras sagradas,
valorizando a repetição e a variação cromática (GOMBRICH, 1999). Na gravura
renascentista, a técnica do pontilhado (stippling) permitia representar sombras
e volumes pela variação da densidade dos pontos, como nas obras de Giulio Campagnola
(GRIFFITHS, 1996). O bordado em ponto cruz, tradicional em diversas culturas,
baseia-se igualmente na repetição de pequenos pontos organizados em grelha (PALLIS,
1991). No século XIX, o pontilhismo de Georges Seurat (IMAGEM 5) retomou essa
lógica sob uma abordagem científica da cor, utilizando a justaposição de pontos
cromáticos para criar efeitos ópticos de mistura (BOZAL, 1983). Na
contemporaneidade, o ponto reaparece no ambiente digital sob a forma do pixel —
a menor unidade de uma imagem em telas digitais, construídas a partir da
emissão de luz e organizadas segundo o modelo de cor RGB (red, green, blue), um
sistema aditivo (DONDIS, 2007). A lógica por trás dessa construção visual
encontra paralelo na técnica do pontilhismo, onde a fusão cromática ocorre no
olho do observador por meio da mistura ótica, uma operação perceptiva (PEDROSA,
2006).
IMAGEM 5 - DETALHE AMPLIADO /ÓLEO SOBRE TELA GEORGE
SERAUT - 1888
FONTE - LAART - 2025
Essa
relação entre ponto, cor e percepção foi ressignificada com o avanço da
tecnologia. Na década de 1960 o uso do computador para criar imagens era
limitado, foi em 1971, com Robert F. Foster no MIT, que surgiu a proposta de
representar imagens através de uma grade de pequenos pontos – os pixels
(picture element) – que se tornariam o fundamento da imagem digital (Lieser,
2010). Desde então, o pixel deixou de ser apenas um recurso técnico para
influenciar os modos de produção e recepção das imagens no design e na arte.
A
chamada pixel art, nascida das limitações técnicas dos primeiros computadores,
encontrou desdobramentos em diversos campos visuais (jogos eletrônicos,
animações, ilustrações) e continua presente em suportes contemporâneos.
No campo das artes visuais, artistas têm explorado esse vocabulário
visual de modo expandido, inclusive em suportes físicos. Um exemplo notável é o
artista francês Invader, que transforma pixels em mosaicos cerâmicos aplicados
no espaço urbano, criando uma fusão entre o digital e o material (Lieser,
2010). Invader busca dar materialidade
física ao pixel (Silva, 2015), utilizando azulejos para compor figuras
inspiradas em videogames clássicos e espalhando suas obras por diversas
cidades. Outro nome relevante é o do britânico Banksy, que se destaca por
intervenções urbanas com forte carga crítica e política, utilizando estêncil
como meio de rápida execução e ampla disseminação no espaço público (Ellis,
2014). Suas obras muitas vezes surgem em locais inesperados, estabelecendo um
diálogo direto com o cotidiano e a paisagem urbana.
IMAGEM 6 – INVADERS / INTERVENÇÃO URBANA / PARIS
FONTE - HOME PAGE DO ARTISTA
INVADERS - 2025
No contexto brasileiro, esse
diálogo entre arte urbana e tecnologia também se manifesta na obra de artistas
como Alexandre Orion, que desenvolve intervenções híbridas combinando técnicas
do graffiti com recursos digitais (REVISTA CULT, 2018). Outros exemplos
internacionais incluem o argentino-espanhol Felipe Pantone, que mistura arte
cinética, grafite e estética digital, e o britânico INSA, que criou o termo
“GIF-iti” para descrever sua técnica de transformar o grafite em animação
digital (COMPOSITION GALLERY, 2025; BOSTON.COM, 2025).
IMAGEM 7 - GRAFFITI E INTERAÇÃO -
ARTISTA ORION
FONTE - TNTARTE – 2025
IMAGEM 8 - OBRA DE FELIPE PANTONE
/ PINTURA CALEDOSCOPICA
FONTE – FELIPE PANTONE / REVISTA
CASA &JARDIM - 2022
2.6 Pixel, Cores, Artes Visuais : Graffiti
Pixel
A transposição do pixel art do meio
digital para murais físicos exige adaptações significativas, constatei isto na
prática em minhas produções , sendo uma
das mais importantes a questão da cor. As cores podem ser compreendidas em
diferentes sistemas conforme o meio em que se manifestam: o modelo RGB (red,
green, blue) refere-se à síntese aditiva da luz, utilizado em dispositivos
eletrônicos, onde as cores surgem pela sobreposição de feixes luminosos; já as
cores físicas, observadas em objetos materiais, derivam da síntese subtrativa,
em que pigmentos absorvem e refletem a luz branca. Como afirma Dondis (2007),
“as cores-luz funcionam por adição, enquanto as cores-pigmento operam por
subtração da luz refletida”. A conversão das cores RGB para tintas físicas
demanda, portanto, sensibilidade e conhecimento sobre os materiais.
Minha pesquisa se passa pela investigação da materialidade física do
pixel – como tinta sobre parede, madeira, papel ou tela –, utilizando pigmentos
no modelo subtrativo, próprio da pintura. A partir de palavras-chave como
“pixel art na parede”, “pixel graffiti” e “pixel art tinta física”, busquei
referências visuais em plataformas de compartilhamento (Pinterest, Behance,
Dribbble, Mural), revelando poucas ocorrências diretas. Foram identificados
trabalhos do design Rodrigo Buldrini, que desenvolveu pinturas murais em alta
escala reinterpretando a estética do pixel dos games através da tinta acrílica,
aproximando a lógica digital de uma linguagem pictórica manual, e do coletivo
Invader, que realiza intervenções urbanas utilizando pastilhas de cerâmica dispostas
como pixels para formar figuras inspiradas em jogos eletrônicos
retrô,inserindo-se na tradição da arte urbana ao mesmo tempo que incorpora criticamente
a lógica dos sistemas digitais através de técnicas artesanais (INVADER, 2011).
IMAGEM 9 - PIXEL NA PAREDE - 2010
FONTE- BLOG DO ARTISTA RODRIGO BULDRINI - 2025
Minhas próprias pesquisas no campo
da exploração do pixel enquanto materialidade na construção de imagens
analógicas tiveram início em 2016, durante minha atuação como arte-educador nas
escolas Madre Paulina e Dom Paulo Rolim Loureiro. Nesse período, iniciei
experimentações com os alunos do ensino médio que envolvia a transposição da
linguagem digital para o espaço físico da parede, começando com estudos sobre
papel (recortes manuais) e, posteriormente, utilizando tinta e pincel. A
metodologia se desenvolveu a partir da manipulação de fotografias no aplicativo
Paint (Windows) e em plataformas online específicas para produção de pixel art
(como as da Faber Castell e PIXEL LT), onde as imagens são reduzidas a formas e
cores simplificadas em pixels (IMAGEM 9). Essa operação permitiu refletir sobre
os limites e potencialidades da representação digital quando transposta para
suportes físicos.
IMAGEM 10-PIXELIZAÇÃO DE
FOTOGRAFIA AUTORAL / PAINT WINDOWS
FONTE – ACERVO DO AUTOR – 2024
Utilizando um método clássico de
cálculo de proporção e ampliação de imagem, foi possível projetar essas
composições sobre a parede da escola, respeitando a lógica visual da pixel art,
incluindo suas características estruturais como a grade, a repetição modular e
a visibilidade do ponto. Esse tipo de prática se relaciona com o que Flusser
(2008) denomina de “imagem técnica” – uma imagem que nasce da mediação de um
aparelho (o computador) e é reinterpretada no gesto manual. Esta passagem do
digital para o analógico, nesse contexto, não é apenas uma tradução de
linguagem, mas um deslocamento da lógica da tela para o campo da pintura mural,
com seus próprios desafios e formas de leitura. Como lembra Ostrower (1977), o
fazer artístico é um processo de construção de pensamento visual, em que a
forma se estabelece a partir da experimentação sensível; nesse caso, o pixel
deixa de ser apenas uma unidade técnica para se tornar parte de um vocabulário
visual materializado na parede.
IMAGEM 11 - GRAFITTI PIXEL COM PINCEL
FONTE – ACERVO DO AUTOR - 2019
3.0 METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa qualitativa de abordagem A/r/tográfica, metodologia
que se caracteriza pela intersecção entre arte, docência e pesquisa,
possibilitando a construção de saberes a partir da experiência vivida. Segundo
Irwin e Springgay (2008), a a/r/tografia “é um modo de investigação que
entrelaça teoria e prática por meio da criação artística e da escrita,
articulando simultaneamente os papéis de artista, pesquisador e professor”.
Essa abordagem mostra-se particularmente potente para esta pesquisa, por
considerar os atravessamentos subjetivos, sensíveis e relacionais que
constituem o processo de criação. A trilha metodológica adotada assemelha-se ao
gesto de transitar pelos muros da cidade com latas de spray e moldes vazados:
cada passo é uma escolha, cada parada uma experiência sensível. Remete à
concepção de experiência de Heidegger (2003), como um caminho a ser trilhado,
onde é preciso "atravessar, sofrer, receber o que nos vem ao encontro,
harmonizando-nos e sintonizando-nos com ele". Tal visão reverbera
diretamente na prática artística em graffiti stencil e graffiti pixel arte
analógica em muros: uma jornada que ultrapassa o fazer técnico e se transforma
em vivência. Nesse contexto, a a/r/tografia surge como metodologia potente e
simbólica, cujas letras costuram os papéis de artista, pesquisador e educador,
sendo também uma forma de escrita (DIAS, 2013). Sua multiplicidade alinha-se aos
atravessamentos do artista –pesquisador -professor, cuja prática é feita de
tinta e escuta, de ensaio e erro, de intervenção e reflexão. Irwin (2013)
define essa metodologia como uma prática viva, constituída por compreensões e
representações sensíveis que entrelaçam teoria e arte.
A investigação a/r/tográfica, assim
como o stencil cortado manualmente, ou o carimbo do graffiti pixel não busca o acabamento perfeito, mas sim as
possibilidades abertas pelo processo. Trata-se de uma forma de pesquisa que se
relaciona com o inesperado, que entrelaça idéias aparentemente desconectadas e
se permite afetar (Irwin, 2013). O a/r/tógrafo, nesse sentido, ocupa três
funções simultaneamente, observando suas próprias ações e sendo atravessado por
elas; ele não apenas investiga, mas é também objeto de sua investigação,
preocupando-se sobre como suas intervenções afetam os outros e a si mesmo
(IRWIN, 2013). No graffiti stencil e no graffiti pixel analógico aplicada aos muros, os dados não
são coletados passivamente, mas produzidos no gesto de pintar, no barulho da
lixa, na escolha das cores, no olhar do transeunte. É na prática que surgem as
informações, nos rastros deixados nas superfícies urbanas. Como afirmam
Carvalho e Immianovsky (2017), a a/r/tografia é baseada no fazer artístico e
privilegia o percurso. O uso de recursos visuais, narrativas textuais e
colagens torna-se importante para capturar as provocações surgidas a partir das
pinturas urbanas, possibilitando ao leitor atravessar o processo vivido,
vislumbrar as dúvidas, os estranhamentos, os deslocamentos de sentido. Ao lidar
com linguagens artísticas, a objetividade dá lugar às interpretações, que se
revelam na caminhada.
Assim como a preparação de um mural, a a/r/tografia exige um esboço, um plano inicial. No entanto, esse plano não é rigidez: ele se curva ao inesperado, adapta-se às exigências do suporte, ao fluxo das relações. Francez (2019) descreve bem esse percurso como algo que "não se apresenta como uma linha reta, mas se configura em muitas idas e voltas, contornos, cruzamentos". A a/r/tografia, conforme proposta por Irwin (2013), é uma metodologia de pesquisa que articula arte, docência e escrita como modos interligados de produção de conhecimento. Trata-se de um processo rizomático, no qual os significados se formam por conexões, rupturas e transformações. O foco está na compreensão que emerge da prática artística, não como ilustração da teoria, mas como modo legítimo de investigação e produção de saber.
Essa abordagem valoriza o que Irwin (2013) chama de "pesquisa viva": uma forma de investigar que é responsiva, engajada e atenta ao contexto. A contiguidade entre arte e escrita, teoria e prática, cria zonas de contato onde texto e imagem se entrelaçam, como destacam Irwin e Springgay (2013). As "aberturas" referem-se a momentos de questionamento e diálogo que surgem no cotidiano da pesquisa, enquanto as metáforas visuais possibilitam compartilhar experiências estéticas, promovendo a construção de sentidos e a ressignificação do vivido (Irwin e Springgay, 2013).
Sou artista atuante no campo da arte urbana, utilizando graffiti, stencil, sticker e lambe-lambe. Minha prática se estende para o espaço escolar, que se transforma em ateliê e território de criação.
A materialidade é central na minha pesquisa — o suporte, os materiais e suas relações com o contexto escolar influenciam diretamente na construção e no sentido das obras.
A partir da metodologia a/r/tográfica, integro os papéis de artista, pesquisador e professor. Desenvolvemos o trabalho em rodas de conversa, onde estudantes participam de todo o processo: pesquisa de imagens, escolha de técnicas, definição de temas e dos espaços a serem ocupados dentro da escola.
O fazer coletivo transforma os muros e paredes em espaços de expressão e pertencimento. As intervenções visuais rompem o silêncio dos espaços escolares, dando visibilidade às narrativas, às subjetividades e às potências criativas dos estudantes.
As práticas a/r/tográficas adotadas nesta pesquisa não buscam a rigidez
de uma resposta final, mas a escuta dos atravessamentos que surgem do fazer
artístico. Por isso, os caminhos aqui percorridos compõem um esboço vivo, que
se projeta como base para futuras investigações em nível de pós-graduação, em
especial na continuidade da pesquisa em mestrado.
3.1 COTIDIANO ESCOLAR: A/R/TOGRAFIA E
MATERIALIDADE
Minha prática como artista e professor no
contexto escolar se desenvolve a partir da metodologia a/r/tográfica, onde
arte, docência e pesquisa se entrelaçam de forma indissociável. No cotidiano
com os alunos dos 9º anos, a proposta se estrutura em etapas que combinam
escuta, experimentação, criação e reflexão, sempre atravessadas pela
materialidade como elemento central do processo.
O ponto de partida são as rodas de conversa,
espaço onde escutamos os alunos, levantamos temas de interesse coletivo e
definimos as mensagens que desejam comunicar por meio da arte urbana. A partir
dessas discussões, realizamos pesquisas de referências visuais, analisando o
trabalho de artistas urbanos, as estéticas do stencil, do lambe-lambe, do
sticker e também experimentando o conceito de graffiti pixel — inicialmente
construindo imagens no papel, para depois transpor essas composições para a
parede.
Na sequência, exploramos a materialidade
em sua totalidade: realizamos testes de tintas, superfícies, tipos de recorte e
possibilidades de sobreposição de camadas. A escolha dos materiais — spray,
rolinho, pincel, papel, adesivo, parede lisa ou áspera — não é apenas uma
questão técnica, mas também uma decisão estética e simbólica, que influencia
diretamente no resultado e na leitura da obra.
O desenvolvimento dos moldes (no caso do
stencil) e das matrizes (no graffiti pixel) acontece de forma coletiva e
manual, em um processo onde o erro, o improviso e o ajuste constante são
incorporados como parte legítima do fazer artístico. A escolha dos espaços
dentro da escola também é feita de forma dialogada, levando em conta a
circulação dos alunos, a incidência de luz, a visibilidade e o impacto que
aquela intervenção provocará no cotidiano escolar.
No graffiti pixel, a articulação com o
raciocínio matemático se torna evidente. Trabalhamos conceitos de módulo,
repetição, escala, proporção, medidas, organização espacial e geometria,
aproximando práticas visuais do pensamento lógico-matemático, sem perder de
vista a dimensão estética, poética e expressiva da criação.
Por fim, realizamos a intervenção no
espaço escolhido, sempre acompanhada de registro fotográfico, audiovisual e
anotações. Após a pintura, retomamos o processo em roda de conversa, refletindo
sobre os resultados, as percepções e os aprendizados construídos. Esse ciclo —
pensar, fazer, refletir — estrutura a prática pedagógica, reforçando a potência
do fazer artístico como espaço de produção de conhecimento, pertencimento e
transformação dentro da escola.
3.2 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Concomitante a este projeto,
desenvolvo uma pesquisa de mestrado que tem como objeto, campo de investigação
e escola os mesmos elementos aqui apresentados. Por se tratar de uma pesquisa
vinculada ao mestrado, sua submissão na Plataforma Brasil e a aprovação pelo
Comitê de Ética em Pesquisa são obrigatórias. Por esse motivo, a publicação de
imagens que envolvam a escola, os alunos e seus processos está temporariamente
restrita, em respeito às normativas éticas que garantem a privacidade, a
proteção e a integridade dos participantes. Ressalto, no entanto, que a
ausência de registros visuais “neste” Trabalho de Conclusão de Curso não
compromete sua fundamentação teórica, nem prejudica sua coerência metodológica
ou seus resultados. A construção deste trabalho se sustenta nos registros
textuais, nas reflexões advindas da prática, na análise dos processos e nas
experiências compartilhadas, assegurando a validade acadêmica e a integridade
ética da pesquisa.
3.3 USO DE IA
Durante a elaboração deste trabalho, utilizei as ferramentas ChatGPT 4.0
e Manus AI com o objetivo de auxiliar na tradução, revisão gramatical,
aprimoramento da clareza textual, desenvolvimento de hipóteses e construção da
discussão. Após o uso dessas ferramentas, revisei e editei cuidadosamente o
conteúdo, assumindo total responsabilidade pela versão final desta publicação.
4.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados desta investigação
surge e se entrelaçam a partir de quatro eixos principais identificados ao
longo do processo formativo: (a) a memória e prática artística individual no
contexto da arte urbana; (b) a relação entre arte contemporânea e o espaço
escolar, marcada por estranhamentos institucionais e pedagógicos; (c) a
centralidade da materialidade como linguagem e potência educativa; e (d) a
articulação entre linguagens visuais e raciocínio matemático nas práticas
desenvolvidas em sala de aula.
O primeiro eixo, referente à trajetória pessoal e ao contexto da arte
urbana, demonstra como o resgate da minha vivência artística, especialmente com
o uso do stencil desde os anos 1980, foi essencial para compreender a inserção
do graffiti e da arte de rua no campo educacional. As vivências em oficinas
culturais e intervenções urbanas moldaram meu fazer artístico e a maneira como entendo a
cidade como suporte e território de disputa simbólica. O stencil, com sua
técnica acessível, portabilidade e potência gráfica, revelou-se um meio
particularmente eficaz para a expressão crítica e para a inserção pedagógica,
com suas qualidades intrínsecas – repetição, simplicidade técnica, contundência
visual – tornando-se elementos centrais nas propostas desenvolvidas com os
alunos.
O segundo eixo aborda o estranhamento institucional e as tensões com a
arte contemporânea. Desde o início das práticas pedagógicas, enfrentei um
estranhamento esperado por parte da instituição escolar. O graffiti, ao ser
inserido nesse ambiente, colide frontalmente com os valores institucionais de
limpeza, ordem e silêncio. A escola, que ensina também por gestos, normas e
estética, muitas vezes marginaliza práticas artísticas que confrontam esse
modelo estabelecido. Trazer o stencil e a estética do graffiti para dentro da
escola provocou reações que oscilaram entre o encantamento e a resistência;
algumas propostas foram vistas como “bagunça” ou “sujeira”, enquanto outras
foram reduzidas a decoração , esvaziando seu caráter crítico. Esse conflito, no
entanto, tornou-se fértil, pois revelou o quanto a arte de rua ainda é
percebida como incômoda, mesmo quando domesticada pelo currículo escolar. A
crítica visual inerente às linguagens periféricas (graffiti, pixação, stencil,
sticker) não se encaixa facilmente em uma lógica de controle. Os muros da
escola, assim como os da cidade, foram transformados em superfícies de disputa
simbólica, e ao romper com o padrão, os estudantes também passaram a
experimentar esse incômodo – ora com curiosidade, ora com receio – diante de
uma arte que não buscava agradar, mas sim provocar.
O terceiro eixo destaca a materialidade como potência estética e
política. A materialidade das linguagens visuais aparece como um elemento
central para a construção dos sentidos e para o engajamento dos estudantes. O
trabalho com stencil, por exemplo, exigiu a manipulação direta de materiais
físicos: papel, acetato, estilete, tinta, máscara, a pressão do spray, a
textura da parede. Cada etapa desse processo revelava uma experiência sensorial
e um aprendizado técnico que transcendia a imagem final. A ação de cortar,
medir, posicionar e pintar foi compreendida como um gesto simultaneamente
político e poético, uma coreografia visual que produz presença e pertencimento.
Com a introdução do “Graffiti pixel
analógico, a materialidade ganhou novos contornos. Embora originada
digitalmente, sua tradução para o analógico – por meio de mosaicos com papéis
coloridos, quadrículas desenhadas à mão, tecidos e tintas , permitiu uma reapropriação tátil e coletiva da
linguagem digital. O pixel deixou de ser apenas um ponto de luz na tela para se
tornar corpo, cor e repetição rítmica no espaço físico. Essa operação entre o
virtual e o manual ampliou a noção de técnica, incluindo a precariedade e a
experimentação como partes válidas do processo criativo.
Finalmente, o quarto eixo explora os diálogos entre arte e matemática no
fazer pedagógico. Ainda que não tenha sido o eixo central da investigação, a
articulação entre arte e matemática mostrou-se significativa para algumas
atividades, especialmente na organização espacial dos murais, na aplicação de
noções de escala e simetria, e no raciocínio lógico envolvido nas etapas de
planejamento e execução. A pixel art, por sua natureza modular, exigiu o uso de
grades, contagem de módulos, identificação de padrões e exploração do ritmo
visual. Essas relações matemáticas tornaram-se concretas, visíveis e acessíveis
a alunos que freqüentemente se sentem excluídos do discurso matemático
tradicional. Contudo, mais importante do que reforçar conteúdos disciplinares
específicos foi possibilitar que os alunos se vissem como autores de imagens
complexas, capazes de dominar processos formais e técnicos, ao mesmo tempo em
que expressavam suas próprias narrativas e visões de mundo. A matemática, neste
contexto, funcionou não como um meio para a construção de subjetividades
visuais e para a ampliação das possibilidades expressivas.
5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, foi possível observar como práticas artísticas
como o graffiti com stencil, quando inseridas no espaço escolar, promovem um
deslocamento sensível nos modos tradicionais de ensinar e aprender, mas também
escancaram as tensões que atravessam a escola pública — suas normatizações,
seus silêncios e seus currículos ocultos. A escolha por uma abordagem situada,
ancorada na minha trajetória enquanto artista, educador e sujeito da periferia,
possibilitou entrelaçar experiências vividas com práticas pedagógicas
concretas, abrindo espaço para uma escuta mais atenta aos corpos, vozes e
imagens que a escola freqüentemente marginaliza ou domestica.
A análise dos quatro eixos que
atravessaram a experiência — a trajetória urbana e pessoal, o estranhamento
institucional, a potência da materialidade e os diálogos com a matemática — revelou que o que está em
jogo vai muito além do uso de uma técnica artística em sala de aula. Trata-se
de afirmar a arte como prática viva e política, que mobiliza afetos, questiona
normas, reorganiza espacialidades e desafia lógicas disciplinadoras.
O primeiro eixo mostrou como a
minha história com o stencil se articula com um fazer pedagógico que reconhece
a rua como espaço formador.
O segundo, ao tratar do
estranhamento institucional, expôs o desconforto que certas expressões
artísticas provocam quando se chocam com os códigos escolares de limpeza, ordem
e silêncio; essa relação, longe de ser um problema, é justamente o que revela a
potência crítica da arte contemporânea dentro da escola.
O terceiro eixo, que trata da
materialidade, mostrou-se crucial para compreender como os processos artísticos
ativam modos outros de aprender, onde o gesto, a tinta, a parede e o molde
contribuem para constituir um pensamento visual que, mesmo efêmero, deixou
marcas duradouras nos estudantes. A relação direta com os materiais, o
enfrentamento com a escala dos suportes e o trabalho coletivo e corporal
potencializaram o fazer artístico como experiência pedagógica.
Já o quarto eixo, que abordou os
atravessamentos da matemática, foi importante para abrir uma brecha
interdisciplinar, ainda que, diante da complexidade das outras dimensões, esse
diálogo tenha se mantido mais pontual, uma escolha feita para preservar a
autonomia da arte e respeitar sua lógica própria de criação.
Entre os principais limites do estudo está o
recorte temporal e espacial da experiência. Por se tratar de uma ação realizada
em uma única escola, com um grupo específico de estudantes e num contexto
institucional particular, os resultados não podem ser generalizados. Além
disso, o tempo reduzido de desenvolvimento das oficinas impôs restrições à
maturação de alguns processos, tanto no campo das linguagens quanto nos
desdobramentos pedagógicos. Apesar disso, os indícios captados nas falas dos alunos, nas imagens produzidas,
nas reações da escola – apontam para a urgência de ampliar experiências como
esta.
Como caminhos futuros, sugere-se que outras pesquisas aprofundem a
presença de linguagens urbanas na escola a partir de perspectivas críticas,
especialmente no que diz respeito à valorização dos saberes periféricos e à
resistência estética dos corpos marginalizados. Também seria relevante investigar
com mais profundidade as articulações entre arte e outras áreas do
conhecimento, como a geografia, a história e as ciências sociais, considerando
o território como elemento formador da subjetividade e da prática pedagógica.
Outra possibilidade é o desenvolvimento de projetos de longa duração que
articulem escola, artistas locais e coletivos culturais em práticas de
co-criação, favorecendo a produção de ateliês vivos nas escolas e a construção
de currículos mais sensíveis às potências do cotidiano.
Este trabalho buscou, portanto,
propor uma prática pedagógica com base na arte contemporânea, e afirmar um modo
de ver e estar no mundo que reconhece a estética como campo de disputa. Ao
trazer o graffiti para dentro da escola sem esvaziá-lo de sua força subversiva,
reafirma-se o direito à cidade, à criação e à diferença como princípios
educativos. Em tempos de apagamentos e normatizações, fazer arte na escola é,
mais do que nunca, um gesto político. Esta pesquisa não pretende encerrar as
discussões sobre as potências educativas e políticas da arte urbana em
territórios periféricos; ao contrário, afirma-se como um processo em curso, no
qual as práticas relatadas, os dados produzidos e as reflexões construídas são
partes de um percurso que se desdobra. O presente trabalho, portanto, constitui
a base para uma investigação mais ampla, a ser desenvolvida em nível de
mestrado, com foco nas relações entre autoconstrução, arte e território.
Com base nos achados desta pesquisa, propõe-se o termo “graffiti pixel ”
para designar práticas que transgridem a lógica exclusivamente digital da pixel
art, trazendo seus princípios visuais – como modularidade, repetição e
composição por unidades – para suportes materiais e técnicas manuais. Essa
noção nasce da fusão entre linguagens visuais digitais e práticas artísticas
urbanas críticas, como o graffiti– entendido aqui não apenas como técnica, mas
como expressão de insurgência estética e política – e a stencil art, em
atividades que envolvem pintura mural, carimbos e experimentações táteis. Ao
cunhar este termo, busca-se evidenciar um território híbrido, onde o digital e
o analógico não se opõem, mas se alimentam mutuamente na criação de novas
formas de expressão no espaço escolar, ancoradas na materialidade, no gesto e
na presença do corpo no espaço público.
Referencias
ALVES,
Daniele de Sá. A/R/Tografia: uma metodologia de pesquisa educacional baseada em
arte na busca pela formação do artista-pesquisador-professor. Revista NUPEART, v. 13, n. 1, 2021.
ALVES, M.
Muito além do olhar: um enlace da
matemática com a arte. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e
Matemática) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2007.
BARROS,
L. R. M. A cor no processo criativo:
um estudo sobre a Bauhaus e as teorias de Goethe. 4. ed. São Paulo:
Editora SENAC São Paulo, 2011.
BOSTON.COM.
What do you call graffiti in motion?
'GIF-iti'. Disponível em: https://www.boston.com/culture/arts/2017/10/13/what-do-you-call-graffiti-in-motion-gif-iti/.
Acesso em: 07 maio 2025.
COCCHIARALE,
Fernando. Quem tem medo da arte
contemporânea? Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana,
2006.
COMPOSITION
GALLERY. Felipe Pantone: Kinetic Art
Meets Liquid Modernity. Disponível em: https://www.composition.gallery/artist/felipe-pantone/.
Acesso em: 07 maio 2025.
Casa e
Jardim. Felipe Pantone transforma
parque elevado em caleidoscópio arquitetônico. Disponível em: https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Arte/noticia/2022/05/artista-transforma-parque-elevado-em-caleidoscopio-arquitetonico.html.
Acesso em: 11 jun. 2025.
FAIGUELERNT,
E. K.; NUNES, Kátia R. Fazendo arte
com a matemática. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Fazendo
pixel art. Disponível em: https://www.faber-castell.com.br/tutorials
/children/ colouring-pixel-it. Acesso em: 11 jun. 2025.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. 43. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GITAHY,
Celso. O que é Graffiti. São
Paulo: Brasiliense, 1999.
INVADERS.
Disponível em: https://fr.pinterest.com/cristinaparma/invaders/.
Acesso em: 11 jun. 2025.
LAART. Pontilhismo. Disponível em: https://laart.art.br/blog/o-que-e-pontilhismo/.
Acesso em: 11 jun. 2025.
LEAL,
Gabriela. Cidade: modos de ler, usar e
se apropriar. A São Paulo do graffiti. São Paulo: Editora Funilaria,
2023.
NEITZEL,
Adair de Aguiar; STEIL, Isleide; FRANCEZ, Letícia. Pesquisa educacional baseada
em arte: a/r/tografia / Arts Based Educational Research: A/r/tography. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação
em Artes, v. 2, n. 1, p. 1–18, 2018.
OPENAI. ChatGPT (versão GPT-4). [S. l.]:
OpenAI, 2025. Disponível em: https://chat.openai.com/.
Acesso em: 11 jun. 2025.
ORION.
Disponível em: https://www.tntarte.com.br/leiloes/76/lote/103.
Acesso em: 11 jun. 2025.
PEDROSA,
Israel. O universo da cor. 3.
ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: SENAC Nacional, 2006.
RAMIRO,
Mario. 3NÓS3: Intervenções Urbanas.
São Paulo: Editora Ubu, 2017.
SÃO PAULO
(Município). Centro Cultural São Paulo
– História. Disponível em: https://centrocultural.sp.gov.br/historia.
Acesso em: 10 maio 2025.
SÃO PAULO
(Município). Subprefeitura Itaim
Paulista – Notícias. Disponível em: https://capital.sp.gov.br/web/itaim_paulista/w/noticias/10031.
Acesso em: 10 maio 2025.
SILVA, João.
Invader: o artista que levou o pixel
para as ruas. Superinteressante,
São Paulo: Editora Abril, 2015, n. 123, p. 45–47.
SONY. Elementos que compõem uma imagem digital.
Disponível em: https://www.sony.com.br/alphauniverse/stories/cuales-son-los-elementos-que-componen-una-imagen-digital-y-para-que-sirven.
Acesso em: 09 fev. 2025.
SUPERINTERESSANTE.
A arte urbana de Alexandre Orion.
Revista Cult, [s.l.], 2018.
Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/a-arte-urbana-de-alexandre-orion/.
Acesso em: 05 maio 2025.
TEODORO,
Claudomiro. São Paulo.
Fotografia. Folhapress, 1985. Disponível em: https://saopaulo.folha.uol.com.br/o-melhor-de-saopaulo/2020/servicos/04/pupilo-de-alex-vallauri-nos-anos-1980-fez-releituras-de-suas-obras-iconicas.shtml.
Acesso em: 10 maio 2025.
VENTURA,
Thais. Hip-hop e graffiti: uma abordagem comparativa entre o Rio de Janeiro e
São Paulo. Análise Social,
Lisboa, v. 44, n. 192, p. 605–634, 2009.
VARAURI,
Alex. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/editoraolhares/8652485507/in/photostream/.
Acesso em: 11 jun. 2025.
APENDICE A - CARTOGRAFIAS
DO FAZER
Espaço aberto para os rastros
deixados ao longo da jornada vivida entre escola, arte e território.Registros
fotográficos sensíveis das ações desenvolvidas com os alunos , imagens,
experiências poéticas e pedagógicas que surgiram no entrelaçamento do meu fazer como
artista, pesquisador e professor.
IMAGEM 1 - PROCESSO DE STENCIL
ARTE
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2023
IMAGEM 2 - PROCESSO ANALÓGICO DE CONVERTER IMAGEM
PARA DE STENCIL
FONTE - ACERVO DO AUTOR – 2024
IMAGEM 3 - PAPEIS COLORIDOS
FONTE – ACERVO DO AUTOR - 2015
IMAGEM 4 - COLAGEM DE PIXEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2015
IMAGEM 5 - COLAGEM DE PIXEL PAPEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2015
IMAGEM 6 - COLAGEM PIXEL PAPEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 20215
IMAGE 7 - PAINEL CONCLUIDO / BIONCE
FONTE - ACERVO DO AUTOR -2015
IMAGEM 8 - ESTUDANTES PINTANDO
PAINEL PIXEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2016
IMAGEM 9- PINTANDO PAICEL PIXEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2016
IMAGEM 10 - PINTANDO IMAGEM PIXEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR – 2023
IMAGEM 12 - PINTANDO FRAGMENTO PIXEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2019
IMAGEM 11 - PINTANDO PIXEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2018
IMAGEM 13- MONTAGEM DE FRAGMENTOS
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2019
IMAGEM 14 - PAINEL PRONTO PIXEL
FRIDA
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2019
IMAGEM 15 - FIXANDO PAINEL PIXEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2018
IMAGEM 16 - PIXEL PAINEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR – 2020
IMAGEM 17 - PAIVEL PIXEL ARTE
FONTE - ACERVO DO AUTOR – 2019
IMAGEM 18- MONTANDO PAINEL PIXEL
ARTE
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2023
IMAGEM 19 - ESTUDANTE PRODUZINDO
GRAFFITI PIXEL EM PAREDE
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2019
IMAGEM 20 - ESTUDANTE PRODUZINDO
GRAFFITI PIXEL EM PAREDE
Figura 1FONTE - ACERVO DO AUTOR – 2019
IMAGEM 21 - ESTUDANTE PRODUZINDO
GRAFFITI PIXEL EM PAREDE
FONTE – ACERVO DO AUTOR - 2019
IMAGEM 22 - EXPERIMENTOS CARIMBO
PIXEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2024
IMAGEM 23 - EXPERIMENTOS CARIMBO
PIXEL
FONTE - ACERVO DO AUTOR - 2024
Nenhum comentário:
Postar um comentário