Este texto é o Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em CURRÍCULO E
PRÁTICA DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), por meio de convênio com a Secretaria de Educação Básica (SEB), do Ministério da Educação (MEC), nos termos da Resolução CEPEX/UFPI 349/2022, de 16/09/2022, e do Edital 52/2023 - CEAD/UFPI, de 01/08/2023.
PIXEL
ARTE – ARTE E MATEMÁTICA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Paulo
Jose de Sousa
1. INTRODUÇÃO
Em 2024, propus um trabalho interdisciplinar que unisse Arte e
Matemática para alunos do 5º ano do ensino fundamental, alinhado à BNCC (EF15AR23).
O objetivo foi ampliar as formas de aprendizagem, demonstrando como ambas as
disciplinas representam a realidade e se complementam. A matemática está
presente em expressões artísticas como pintura, escultura e arquitetura,
fornecendo bases para a criação visual por meio de conceitos como perspectiva,
proporção e simetria. Da mesma forma, a arte pode inspirar a matemática ao
desafiar a percepção espacial e estimular padrões e estruturas.
Esse diálogo foi abordado pelas artes visuais, destacando como as
imagens são construídas historicamente e suas relações com a matemática. O foco
foi o pixel art como ponto e elemento básico das artes visuais. No processo de
aprendizagem, os alunos exploraram essa linguagem de forma analógica, sem técnicas
digitais, utilizando tintas, papéis, pincéis, carimbos de EVA, papel
quadriculado, mosaicos e graffiti sobre parede. Essas estratégias ajudaram a
compreender a construção da imagem por pequenos elementos.
O objetivo foi investigar o pixel art como estratégia interdisciplinar,
promovendo o pensamento visual e espacial. Os alunos criaram imagens
bidimensionais explorando sua estética em diferentes suportes, como papel,
painéis e muros. A proposta tornou o ensino da matemática mais acessível e
significativo, favorecendo a aprendizagem visual e estimulando o pensamento
espacial. Além disso, permitiu a experimentação com diferentes suportes e
técnicas, conectando referências históricas e contemporâneas ao processo
criativo. Essa abordagem possibilitou uma vivência prática e lúdica da relação
entre arte e matemática, tornando o aprendizado mais interdisciplinar e
envolvente.
2. DESENVOLVIMENTO
Minha
prática pedagógica como professor de arte se baseia na integração entre criação
e aprendizado. Atuo como professor-artista, propondo experiências que estimulam
o fazer artístico em diálogo com os alunos. Essa abordagem foi aplicada a
estudantes do 5º ano do ciclo de alfabetização na EMEF Dom Paulo Rolim
Loureiro, escola pública da periferia de São Paulo. A atividade propôs uma
relação entre Arte e Matemática, não como disciplinas isoladas, mas como
linguagens complementares.
As
atividades ocorreram na sala de arte (ateliê), incentivando experimentação e
reflexão na produção de objetos visuais com a temática da pixel arte. A
metodologia adotada segue a abordagem triangular, estruturando o ensino a
partir de três eixos: apreciação, contextualização e produção. Por meio do
estudo de movimentos artísticos e seus artistas, rodas de conversa e textos
reflexivos. Em seguida, desenvolvem suas próprias criações, explorando
criatividade, materialidade e conceitos estéticos.
Conforme
Barbosa (1975, p. 113), é essencial que os alunos compreendam como a arte
impacta o observador, organizando sentimentos e idéias. O processo de
interpretação visual ativa o potencial criativo, assim como a experiência de
produção artística. Dessa forma, a Abordagem Triangular proporciona um ensino
mais significativo, pois integra percepção, prática e análise crítica.
2.1 PRODUZINDO PIXEL ARTE
O pixel, menor unidade de uma imagem digital, deriva de picture element (LYON, 2006). No entanto, a formação de imagens por pequenos pontos é anterior à era digital, presente em mosaicos e bordados como o ponto cruz (Rouparia Carioca, 2021). Com os avanços tecnológicos, essa lógica migrou para o digital, tornando-se a base da pixel art. O conceito moderno de pixel surgiu nos anos 1950, quando Russell Kirsch digitalizou a primeira imagem em preto e branco, revolucionando a manipulação visual e consolidando a estética pixelada como uma linguagem própria da contemporaneidade.
A
atividade iniciou com um breve histórico sobre o uso do pixel como ponto na
formação de imagens, destacando sua presença em diferentes momentos da história
da arte. Na Idade Média, a gravura pontilhada foi amplamente utilizada, como na
xilogravura "Rinoceronte" (1515). Nesse período, o
universo da gravura passou a se tornar mais restrito à reprodução de pinturas.
Essa tendência continuou durante o século seguinte, que contou com a
popularização de técnicas como a gravura pontilhada (LAART, 2019 S/ P.) O bordado
ponto cruz, introduzido no Brasil pelos portugueses, também reflete esse
princípio, criando imagens com pontos "X", semelhante à construção de
imagens digitais. Culturas antigas, como os assírios e gregos, incorporaram
essa técnica em vestimentas e decorações, posteriormente difundida pelos
romanos, Bordavam motivos em suas roupas e em cortinas
decorativas, este povo repassou a técnica artística para os gregos e estes,
dominados, foram “copiados” pelos romanos, que passaram a chamar o trabalho e a
técnica de bordado (Wittmann,2023 s/ p.)
No
pós-impressionismo, o Pontilhismo revolucionou a pintura com pequenos pontos de
cor, permitindo que a mistura cromática ocorresse na retina do observador.
Artistas pontilhistas aplicavam cores primárias de forma sistemática, criando
efeitos visuais singulares. Os pintores que adotaram o
Pontilhismo inscreviam na tela pequenos pontos regulares feitos com cores
primárias a fim que o espectador sentisse a mistura de cores na sua retina.
(Fuks, 2020 s/ p.)
Contextualizamos , ainda, a conexão entre arte e matemática, que se
manifesta em padrões, proporções e estruturas visuais. Analisando
as origens dos registros da Arte e da Matemática, podemos perceber que os
desenhos e as figuras do homem neolítico, que embora possa ter menos tempo para
o lazer e pouca necessidade de medir terras, mostram preocupação com as
relações espaciais que abriram o caminho para a Geometria. (ZALESKI FILHO,
2013, p.39) . O pixel
art exemplifica essa relação ao organizar imagens em grades modulares,
permitindo a exploração de conceitos matemáticos como simetria e transformação
geométrica. Desde os desenhos neolíticos, observa-se uma preocupação com
organização espacial, abrindo caminho para a Geometria, Desenhos
em potes, tecidos e cestas são exemplos de simetria que são conceitos tratados
pela Geometria Elementar. (ZALESKI FILHO, 2013, p.39. Essa introdução teórica foi abordada em duas
aulas de 50 minutos, utilizando multimídia para apresentar imagens e vídeos.
A
parte prática iniciou com a produção de pixel art em papel quadriculado. Os
alunos escolheram imagens contemporâneas de desenhos animados, HQs e cultura
pop para reproduzir em maior escala. Inicialmente, trabalharam com folhas A4 já
quadriculadas, facilitando a transposição da imagem (figura 1) .
Figura
1-Pixel art em papel quadriculado
fonte: acervo pessoal, 2024
Na
etapa seguinte, em duplas, os estudantes escolheram imagens de um banco de 150
opções previamente selecionadas, todas pixelizadas, mas sem grade quadriculada.
Utilizando réguas, desenharam uma malha de 5x5 mm e calcularam a proporção para
ampliação. Cada quadrado da imagem original foi expandido para 4 cm em
cartolina, formando uma malha de aproximadamente 50x60 cm. Com tinta ou giz de
cera, preencheram os espaços, finalizando a composição
(figura 2).
Figura 2 –
Produção de pixel sobre cartolina
fonte: acervo
pessoal, 2024
A
terceira etapa envolveu trabalhos em grupos de cinco ou seis alunos. As imagens
escolhidas eram mais complexas, com maior variedade de cores e tons. Os
estudantes calcularam a ampliação proporcional, transformando imagens de 20x30
cm em painéis de 1,60 x 2,40 m. A imagem foi fragmentada em cinco partes
verticais, cada subgrupo ficou responsável por uma "tira de pixel".
Utilizando tinta guache, pincéis e rolinhos, coloriram suas partes, que
posteriormente foram coladas na sequência correta, formando grandes painéis de
aproximadamente 3m² (figuras 3,4,5 e 6 )
Figura 3
- Fragmento do painel sendo pintado e
montagem do painel
Fonte : Acervo pessoal, 2024
Figura 4 – Painel finalizado medindo 3,20 X 1,30 m.
Fonte: Acervo pessoal, 2024
Figura 5 – Painéis finalizados /Pixel
em painel de papelão
Fonte: Acervo pessoal, 2024
Figura 6 – Painéis finalizados
Fonte: Acervo pessoal, 2024
3. CONCLUSÃO
A integração entre arte e matemática por meio do pixel art mostrou-se uma abordagem interdisciplinar eficaz no ensino fundamental. Ao explorar a construção de imagens modulares, foi possível conectar diferentes períodos históricos e linguagens artísticas, evidenciando a recorrência da organização visual por pontos na arte e na matemática. Durante esse processo, os alunos não apenas reproduziram imagens, mas também aprofundaram sua compreensão sobre a construção visual e os conceitos matemáticos envolvidos. O uso de materiais analógicos, como papel quadriculado e técnicas de impressão, permitiu que experimentassem, na prática, os princípios estruturantes da imagem digital, desenvolvendo o pensamento espacial e a percepção estética.
A metodologia adotada, baseada na abordagem triangular, garantiu que os estudantes acessassem referências históricas e contemporâneas, refletissem sobre os processos de construção da imagem e produzissem suas próprias composições. Esse percurso fortaleceu a relação entre teoria e prática, tornando a aprendizagem mais significativa.
No entanto, ao aplicar a proposta, percebi que muitos alunos enfrentavam dificuldades com conceitos matemáticos básicos, especialmente multiplicação. Em turmas do 3º ano, essa lacuna gerou desafios para integrar a matemática à arte de forma eficaz. Ainda assim, ao envolver os estudantes em processos visuais e táteis, como a criação de imagens modulares, foi possível reforçar esses conceitos de maneira criativa e prática, tornando a aprendizagem mais concreta.
A pesquisa evidenciou que a arte pode ser uma ferramenta de mediação para a matemática, tornando conteúdos abstratos mais acessíveis e estimulando o raciocínio lógico por meio da experimentação visual. O diálogo entre essas áreas amplia as possibilidades didáticas e enriquece o repertório dos alunos. Assim, o pixel art revelou-se um recurso valioso para potencializar o ensino de matemática e arte, promovendo uma aprendizagem interdisciplinar mais integrada e significativa.
4.
REFERENCIAS
A influência mútua que
existe entre arte e matemática, disponível em : https://impa.br/noticias/a-influencia-mutua-entre-arte-e-matematica/.Acesso
em 9 de Fev 2025.
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Acesso em: 09 fev. 2025.
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https://novaescola.org.br/conteudo/20482/como-desenvolver-o-pensamento-logico-no-fundamental-1. Acesso em 06 fev 2025.
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O que é pontilhismo: onde
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Ponto
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www.broupariacarioca.com.br/ponto-de-cruz-tradicao-e-resgate-de-uma-heranca-milenar.
Acesso em 10 de Jan 2025.
REBOUÇAS, Simone Batista de
Miranda. História do bordado. disponível em: <
http://www.cambord.com.br/2017/07/31/historiadobordado>. Acesso em:15 jan
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Disponivel em: CRUZhttps://proativa.virtual.
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WITTMANN, Angelina. O Bordado - Die Stickerei - Tradição e
História.Disponivel em: https://omunicipioblumenau.com.br/registro-para-historia-conheca-a-historia-do-bordado-e-como-esta-arte-influenciou-as-praticas-na-colonia-blumenau/. Acesso em 13 Jan 2025.
ZALESKI FILHO, D. Matemática e Arte. Belo
Horizonte: Autêntica Editora. 2013, p.3
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