terça-feira, 22 de julho de 2025

Este texto é o Trabalho de Conclusão de Curso  de Especialização em CURRÍCULO E

PRÁTICA DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), por meio de convênio com a Secretaria de Educação Básica (SEB), do Ministério da Educação (MEC), nos termos da Resolução CEPEX/UFPI 349/2022, de 16/09/2022, e do Edital 52/2023 - CEAD/UFPI, de 01/08/2023.


PIXEL ARTE – ARTE E MATEMÁTICA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Paulo Jose de Sousa

 

1.           INTRODUÇÃO

 

              Em 2024, propus um trabalho interdisciplinar que unisse Arte e Matemática para alunos do 5º ano do ensino fundamental, alinhado à BNCC (EF15AR23). O objetivo foi ampliar as formas de aprendizagem, demonstrando como ambas as disciplinas representam a realidade e se complementam. A matemática está presente em expressões artísticas como pintura, escultura e arquitetura, fornecendo bases para a criação visual por meio de conceitos como perspectiva, proporção e simetria. Da mesma forma, a arte pode inspirar a matemática ao desafiar a percepção espacial e estimular padrões e estruturas.

              Esse diálogo foi abordado pelas artes visuais, destacando como as imagens são construídas historicamente e suas relações com a matemática. O foco foi o pixel art como ponto e elemento básico das artes visuais. No processo de aprendizagem, os alunos exploraram essa linguagem de forma analógica, sem técnicas digitais, utilizando tintas, papéis, pincéis, carimbos de EVA, papel quadriculado, mosaicos e graffiti sobre parede. Essas estratégias ajudaram a compreender a construção da imagem por pequenos elementos.

              O objetivo foi investigar o pixel art como estratégia interdisciplinar, promovendo o pensamento visual e espacial. Os alunos criaram imagens bidimensionais explorando sua estética em diferentes suportes, como papel, painéis e muros. A proposta tornou o ensino da matemática mais acessível e significativo, favorecendo a aprendizagem visual e estimulando o pensamento espacial. Além disso, permitiu a experimentação com diferentes suportes e técnicas, conectando referências históricas e contemporâneas ao processo criativo. Essa abordagem possibilitou uma vivência prática e lúdica da relação entre arte e matemática, tornando o aprendizado mais interdisciplinar e envolvente.

 

2.          DESENVOLVIMENTO

 

            Minha prática pedagógica como professor de arte se baseia na integração entre criação e aprendizado. Atuo como professor-artista, propondo experiências que estimulam o fazer artístico em diálogo com os alunos. Essa abordagem foi aplicada a estudantes do 5º ano do ciclo de alfabetização na EMEF Dom Paulo Rolim Loureiro, escola pública da periferia de São Paulo. A atividade propôs uma relação entre Arte e Matemática, não como disciplinas isoladas, mas como linguagens complementares.

          As atividades ocorreram na sala de arte (ateliê), incentivando experimentação e reflexão na produção de objetos visuais com a temática da pixel arte. A metodologia adotada segue a abordagem triangular, estruturando o ensino a partir de três eixos: apreciação, contextualização e produção. Por meio do estudo de movimentos artísticos e seus artistas, rodas de conversa e textos reflexivos. Em seguida, desenvolvem suas próprias criações, explorando criatividade, materialidade e conceitos estéticos.

            Conforme Barbosa (1975, p. 113), é essencial que os alunos compreendam como a arte impacta o observador, organizando sentimentos e idéias. O processo de interpretação visual ativa o potencial criativo, assim como a experiência de produção artística. Dessa forma, a Abordagem Triangular proporciona um ensino mais significativo, pois integra percepção, prática e análise crítica.

 

2.1          PRODUZINDO  PIXEL  ARTE

 

               O pixel, menor unidade de uma imagem digital, deriva de picture element (LYON, 2006). No entanto, a formação de imagens por pequenos pontos é anterior à era digital, presente em mosaicos e bordados como o ponto cruz (Rouparia Carioca, 2021). Com os avanços tecnológicos, essa lógica migrou para o digital, tornando-se a base da pixel art. O conceito moderno de pixel surgiu nos anos 1950, quando Russell Kirsch digitalizou a primeira imagem em preto e branco, revolucionando a manipulação visual e consolidando a estética pixelada como uma linguagem própria da contemporaneidade.

              A atividade iniciou com um breve histórico sobre o uso do pixel como ponto na formação de imagens, destacando sua presença em diferentes momentos da história da arte. Na Idade Média, a gravura pontilhada foi amplamente utilizada, como na xilogravura "Rinoceronte" (1515). Nesse período, o universo da gravura passou a se tornar mais restrito à reprodução de pinturas. Essa tendência continuou durante o século seguinte, que contou com a popularização de técnicas como a gravura pontilhada (LAART, 2019 S/ P.) O bordado ponto cruz, introduzido no Brasil pelos portugueses, também reflete esse princípio, criando imagens com pontos "X", semelhante à construção de imagens digitais. Culturas antigas, como os assírios e gregos, incorporaram essa técnica em vestimentas e decorações, posteriormente difundida pelos romanos, Bordavam motivos em suas roupas e em cortinas decorativas, este povo repassou a técnica artística para os gregos e estes, dominados, foram “copiados” pelos romanos, que passaram a chamar o trabalho e a técnica de bordado (Wittmann,2023 s/ p.)

            No pós-impressionismo, o Pontilhismo revolucionou a pintura com pequenos pontos de cor, permitindo que a mistura cromática ocorresse na retina do observador. Artistas pontilhistas aplicavam cores primárias de forma sistemática, criando efeitos visuais singulares. Os pintores que adotaram o Pontilhismo inscreviam na tela pequenos pontos regulares feitos com cores primárias a fim que o espectador sentisse a mistura de cores na sua retina. (Fuks, 2020 s/ p.)

          Contextualizamos , ainda, a conexão entre arte e matemática, que se manifesta em padrões, proporções e estruturas visuais. Analisando as origens dos registros da Arte e da Matemática, podemos perceber que os desenhos e as figuras do homem neolítico, que embora possa ter menos tempo para o lazer e pouca necessidade de medir terras, mostram preocupação com as relações espaciais que abriram o caminho para a Geometria. (ZALESKI FILHO, 2013, p.39) . O pixel art exemplifica essa relação ao organizar imagens em grades modulares, permitindo a exploração de conceitos matemáticos como simetria e transformação geométrica. Desde os desenhos neolíticos, observa-se uma preocupação com organização espacial, abrindo caminho para a Geometria, Desenhos em potes, tecidos e cestas são exemplos de simetria que são conceitos tratados pela Geometria Elementar. (ZALESKI FILHO, 2013, p.39.  Essa introdução teórica foi abordada em duas aulas de 50 minutos, utilizando multimídia para apresentar imagens e vídeos.

          A parte prática iniciou com a produção de pixel art em papel quadriculado. Os alunos escolheram imagens contemporâneas de desenhos animados, HQs e cultura pop para reproduzir em maior escala. Inicialmente, trabalharam com folhas A4 já quadriculadas, facilitando a transposição da imagem (figura 1) .

Figura 1-Pixel art em papel quadriculado

fonte: acervo pessoal, 2024

          Na etapa seguinte, em duplas, os estudantes escolheram imagens de um banco de 150 opções previamente selecionadas, todas pixelizadas, mas sem grade quadriculada. Utilizando réguas, desenharam uma malha de 5x5 mm e calcularam a proporção para ampliação. Cada quadrado da imagem original foi expandido para 4 cm em cartolina, formando uma malha de aproximadamente 50x60 cm. Com tinta ou giz de cera, preencheram os espaços, finalizando a composição (figura 2).

Figura 2 – Produção de pixel sobre cartolina

                                                                         fonte: acervo pessoal, 2024

            A terceira etapa envolveu trabalhos em grupos de cinco ou seis alunos. As imagens escolhidas eram mais complexas, com maior variedade de cores e tons. Os estudantes calcularam a ampliação proporcional, transformando imagens de 20x30 cm em painéis de 1,60 x 2,40 m. A imagem foi fragmentada em cinco partes verticais, cada subgrupo ficou responsável por uma "tira de pixel". Utilizando tinta guache, pincéis e rolinhos, coloriram suas partes, que posteriormente foram coladas na sequência correta, formando grandes painéis de aproximadamente 3m² (figuras 3,4,5 e 6 )

Figura 3 -  Fragmento do painel sendo pintado e montagem do painel 

Fonte : Acervo pessoal, 2024

 

Figura  4 – Painel finalizado medindo 3,20 X 1,30 m.

Fonte: Acervo pessoal, 2024

 

 

Figura 5 – Painéis finalizados /Pixel  em painel de papelão

Fonte: Acervo pessoal, 2024

 

Figura 6 – Painéis finalizados

Fonte: Acervo pessoal, 2024

3.           CONCLUSÃO

 

             A integração entre arte e matemática por meio do pixel art mostrou-se uma abordagem interdisciplinar eficaz no ensino fundamental. Ao explorar a construção de imagens modulares, foi possível conectar diferentes períodos históricos e linguagens artísticas, evidenciando a recorrência da organização visual por pontos na arte e na matemática. Durante esse processo, os alunos não apenas reproduziram imagens, mas também aprofundaram sua compreensão sobre a construção visual e os conceitos matemáticos envolvidos. O uso de materiais analógicos, como papel quadriculado e técnicas de impressão, permitiu que experimentassem, na prática, os princípios estruturantes da imagem digital, desenvolvendo o pensamento espacial e a percepção estética.

A metodologia adotada, baseada na abordagem triangular, garantiu que os estudantes acessassem referências históricas e contemporâneas, refletissem sobre os processos de construção da imagem e produzissem suas próprias composições. Esse percurso fortaleceu a relação entre teoria e prática, tornando a aprendizagem mais significativa.

No entanto, ao aplicar a proposta, percebi que muitos alunos enfrentavam dificuldades com conceitos matemáticos básicos, especialmente multiplicação. Em turmas do 3º ano, essa lacuna gerou desafios para integrar a matemática à arte de forma eficaz. Ainda assim, ao envolver os estudantes em processos visuais e táteis, como a criação de imagens modulares, foi possível reforçar esses conceitos de maneira criativa e prática, tornando a aprendizagem mais concreta.

A pesquisa evidenciou que a arte pode ser uma ferramenta de mediação para a matemática, tornando conteúdos abstratos mais acessíveis e estimulando o raciocínio lógico por meio da experimentação visual. O diálogo entre essas áreas amplia as possibilidades didáticas e enriquece o repertório dos alunos. Assim, o pixel art revelou-se um recurso valioso para potencializar o ensino de matemática e arte, promovendo uma aprendizagem interdisciplinar mais integrada e significativa.

 

 

 

 

 

 

 

 

4.     REFERENCIAS

 

A influência mútua que existe entre arte e matemática, disponível em : https://impa.br/noticias/a-influencia-mutua-entre-arte-e-matematica/.Acesso em 9 de Fev 2025.

 

BARBOSA, Ana Mae. Teoria e prática da educação artística. 1ª edição. São Paulo: Editora Cultrix, 1975.

 

FABRIS, Annateresa. O pontilhismo de Georges Seurat. Tradução . O Estado de São Paulo, São Paulo, 1991. , p. 8 Disponível em: https://www.eca.usp.br/acervo/acervo-local/producao-academica/000812471.pdf. Acesso em: 09 fev. 2025.

 

COLETTI, Selene.Como desenvolver o pensamento lógico no Fundamental 1. Disponivel em:

https://novaescola.org.br/conteudo/20482/como-desenvolver-o-pensamento-logico-no-fundamental-1. Acesso em 06 fev 2025.

 

O pontilhismo e a pixel art, Disponivel em : https://trajetoriaescolar.org.br/wp-content/uploads/2024/08/exp_did_pdf09-ED-PDF-Pontilhismo-e-Pixel-art.pdf. Acesso em 14 de Dez 2024.

 

O que é pontilhismo: onde surgiu o pontilhismo e quem criou essa técnica? disponível em : https://laart.art.br/blog/o-que-e-pontilhismo/. Acesso em 10 de Jan 2025.

Ponto de cruz: tradição e resgate de uma herança milenar, disponível em:https:// www.broupariacarioca.com.br/ponto-de-cruz-tradicao-e-resgate-de-uma-heranca-milenar. Acesso em 10 de Jan 2025.

 

REBOUÇAS, Simone Batista de Miranda. História do bordado. disponível em: < http://www.cambord.com.br/2017/07/31/historiadobordado>. Acesso em:15 jan 2025.

 

REFLEXÃO E TRANSLAÇÃO EM BORDADOS DE PONTO, Disponivel em: CRUZhttps://proativa.virtual. ufc.br/sipemat2012/papers/657/submission /director/ 657.pdf. Acesso em 03 de Jan 2025.

 

WITTMANN, Angelina. O Bordado - Die Stickerei - Tradição e História.Disponivel em:  https://omunicipioblumenau.com.br/registro-para-historia-conheca-a-historia-do-bordado-e-como-esta-arte-influenciou-as-praticas-na-colonia-blumenau/. Acesso em 13 Jan 2025.

 

ZALESKI FILHO, D. Matemática e Arte. Belo Horizonte: Autêntica Editora. 2013, p.3

 

 


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